sábado, 1 de agosto de 2009
Palavras mais bonitas do mundo
Esse hiato criativo meu tão longo deve ter um motivo. E por mais estúpido que seja, é um motivo, e motivos geralmente não são irrelevantes. Esse vem seguido de uma confissão que cora meu rosto: eu só queria escrever quando tivesse as palavras mais bonitas do mundo para oferecer. Daquelas que quando lidas agem como uma fumaça com poder de grande descoberta e prazer dentro da gente, um evento bem revelador e que dá a impressão de sentir bem a nossa vida. Pois então, essa pretensão que barrou por tanto tempo a expressão escrita de quem vos fala (e é ainda mais grave nesse caso, já que a futura profissão deste depende diretamente desse tipo de expressão) foi invalidada hoje. Não era altivez, longe disso, e sim a humilde vontade de disponilizar algo de grande qualidade, comoção e sentimento para uma outra pessoa. E claro, ter algo do que se orgulhar de verdade. O erro disso tudo foi esperar essas palavras virem por vontade própria. Perdoável, se percebido logo, ou quase logo. Como escrever as tais palavras mais bonitas do mundo se essas não têm de quê se destacarem? Escrever é a solução! E escrever de todo o coração e verdade, que é pra essas chances desse acontecimento belo ser palpável em breve tempo serem mais largas. E tenho dito.
domingo, 24 de maio de 2009
Despreocudapamente eu vou
Uma das minhas maneiras preferidas de despreocupação é quando a música entra por um ouvido e sai empurrando pelo outro, com toda autoridade, todo pensamento encucante e desgostoso existente.
domingo, 10 de maio de 2009
A dança
Não, não é efeito de drogas. Nada foi ingerido. Me sinto mais bobo e sensível. Talvez a resposta da pele ao frio, talvez seja a música que ouço agora a culpada. Acho que essa resposta eu sei, mesmo que a certeza seja fujona sempre que olho pros lados procurando por ela. É a sensação de descoberta. Dotada de razão, ou sem vestígio algum dessa, dá sentido novo. Ela é a música que gera a dança que move todos nós. E essa há de ser muito bem aproveitada, pois é a única que dançamos.
sábado, 2 de maio de 2009
sexta-feira, 17 de abril de 2009
A iguana Catarina
Quando adormeci, eu tinha uma iguana. O sonho insistia em se apresentar como realidade lembrada, mesmo eu tendo certeza de sua origem de fantasia lembrada. Pois bem, havia uma iguana, e era toda minha. Era pequenina, na verdade não sei o que a distinguia de uma lagartixa, talvez seus movimentos menos automatizados. De escamas verde-azuladas com olhos de uma carência muito evidente, me fitava, ali, quieta no seu canto. Dei por encará-la, e tentar entender o que se passava na cabecinha daquele réptil minimizado.
Suprimentos havia de sobra em seus potes de comes e bebes, fome ou sede não devia ser. Talvez um afago lhe bastasse. Aproximei-me aos poucos daquele serzinho, que há pouco não existia em minha vida, e tentei lembrar de qualquer intimidade que teríamos tido em um tempo antigo imaginado. Invadiu os meus ouvidos um som muito estranho e organoléptico, vindo de repente e de lugar nenhum. A voz que ressonou o tal nome causou frio no ouvido, algo que percebi também ser úmido, escuro e rouco: “Catarina”, disse. Olhei bem naqueles olhos pegajosos suplicantes e pude jurar que ela sutilmente balançou a cabeça em acordo com o escutado. "É seu nome, ora pois!", deduzi. E ela continuou, ainda com mais vontade, sua reverência positiva.
O que mais me surpreendeu foi não ter ficado surpreendido, eu esperava tudo. Quis deitar ao seu lado, me sentia como quem tinha perdido a memória e achou uma grande companheira de antes que ajudaria a reavivar minha história. Deitei, e ficamos ali nos encarando pelo que parecia uma eternidade. De segundo em segundo, as lembranças que não existiam ficavam mais vivas em mim.
Descobri que ela era meu único contato com o mundo vivo, depois de ter decidido me isolar numa montanha russa (não falo daqueles ferros imensos justapostos para diversão de pessoas, e sim de um acidente geográfico localizado em terreno gelado e russo) alguns anos antes. Nos comunicávamos perfeitamente sem o soar de uma palavra, aquele entendimento mútuo tão eficaz me fazia dessaudalizar (não mais sentir falta) dos relacionamentos humanos, no qual esse entendimento era tão raro. Nessa escolha minha de morar numa montanha longe dos demais, tive que me afastar dos amigos queridos e irmãos de árvore genealógica. Deles sim, eu sentia saudade. Mas conseguia me comunicar com eles todos os dias através do coração, funcionava como um telefone ou como a internet, só que não custava nada de dinheiro, do qual eu era totalmente destituído.
Eu havia me encontrado naquela montanha, com Catarina. E acho que nunca houve sensação melhor que essa.
Com frio e tristeza, despertei! Por um segundo de extrema expectativa, achei que o frio vinha das montanhas, e que eu realmente estava lá. Mas logo percebi que era só a ausência do cobertor a razão de meus pés estarem gélidos. Apesar de digerir essa realidade um tanto quanto cortante, eu estava feliz com a lembrança fantasiada. Senti a mudança de Catarina em mim, mesmo acordado. Foi um sonho gostoso de se sonhar.
Suprimentos havia de sobra em seus potes de comes e bebes, fome ou sede não devia ser. Talvez um afago lhe bastasse. Aproximei-me aos poucos daquele serzinho, que há pouco não existia em minha vida, e tentei lembrar de qualquer intimidade que teríamos tido em um tempo antigo imaginado. Invadiu os meus ouvidos um som muito estranho e organoléptico, vindo de repente e de lugar nenhum. A voz que ressonou o tal nome causou frio no ouvido, algo que percebi também ser úmido, escuro e rouco: “Catarina”, disse. Olhei bem naqueles olhos pegajosos suplicantes e pude jurar que ela sutilmente balançou a cabeça em acordo com o escutado. "É seu nome, ora pois!", deduzi. E ela continuou, ainda com mais vontade, sua reverência positiva.
O que mais me surpreendeu foi não ter ficado surpreendido, eu esperava tudo. Quis deitar ao seu lado, me sentia como quem tinha perdido a memória e achou uma grande companheira de antes que ajudaria a reavivar minha história. Deitei, e ficamos ali nos encarando pelo que parecia uma eternidade. De segundo em segundo, as lembranças que não existiam ficavam mais vivas em mim.
Descobri que ela era meu único contato com o mundo vivo, depois de ter decidido me isolar numa montanha russa (não falo daqueles ferros imensos justapostos para diversão de pessoas, e sim de um acidente geográfico localizado em terreno gelado e russo) alguns anos antes. Nos comunicávamos perfeitamente sem o soar de uma palavra, aquele entendimento mútuo tão eficaz me fazia dessaudalizar (não mais sentir falta) dos relacionamentos humanos, no qual esse entendimento era tão raro. Nessa escolha minha de morar numa montanha longe dos demais, tive que me afastar dos amigos queridos e irmãos de árvore genealógica. Deles sim, eu sentia saudade. Mas conseguia me comunicar com eles todos os dias através do coração, funcionava como um telefone ou como a internet, só que não custava nada de dinheiro, do qual eu era totalmente destituído.
Eu havia me encontrado naquela montanha, com Catarina. E acho que nunca houve sensação melhor que essa.
Com frio e tristeza, despertei! Por um segundo de extrema expectativa, achei que o frio vinha das montanhas, e que eu realmente estava lá. Mas logo percebi que era só a ausência do cobertor a razão de meus pés estarem gélidos. Apesar de digerir essa realidade um tanto quanto cortante, eu estava feliz com a lembrança fantasiada. Senti a mudança de Catarina em mim, mesmo acordado. Foi um sonho gostoso de se sonhar.
sábado, 4 de abril de 2009
Dispensa um título
Vai ver é só orgulho humano mesmo. Tem outra razão convicente pra não se admitir o não-entendimento próprio? Garimpar resposta pra isso sempre é muita vezes inerente à gente. E, pelo menos em mim, causa um vento estrangeiro na barriga, que deixa tudo funcionando anormalmente do lado interno da coisa.
Dando mais umas voltas no vagão incomensurável da cabeça, penso que não tenho certezas: eu sinto certezas. E uma delas é de que, apesar de arder, furar, enroxar e enfim encicatrizar, é uma honra poder sentir tudo isso. Honra pois assim se sabe que se está vivo, e isso é mais um item da lista dos não-entendimentos que são grandiosos demais para serem compreendidos, ou talvez nem precisem.
Dando mais umas voltas no vagão incomensurável da cabeça, penso que não tenho certezas: eu sinto certezas. E uma delas é de que, apesar de arder, furar, enroxar e enfim encicatrizar, é uma honra poder sentir tudo isso. Honra pois assim se sabe que se está vivo, e isso é mais um item da lista dos não-entendimentos que são grandiosos demais para serem compreendidos, ou talvez nem precisem.
segunda-feira, 9 de março de 2009
sexta-feira, 6 de março de 2009
Ventania
Como tantos tornados antes da tecnologia metereológica, este veio sem aviso. Ao grande estilo de antes (até com a sensibilidade de algumas pessoas que sentem furacões ao observar o comportamento do céu e algumas tênues variações da atmosfera) e sem nenhuma expectativa ou preparação antes pensada.
A vinda foi bonita. Rápida, ventosa, exuberante e confusa, como são tantas outras. Mas essa tinha sido especial. É sabido por toda a gente que os ventos trazem coisas novas a todos os lugares, coisas que desordenam o que antes se mantinha muito retinto e estabelece uma nova ordem que leva certo tempo pra se estabilizar, até outra ventania sem aviso mudar tudo mais uma vez.
Um conhecimento popular que deveria ser levado em consideração por todos é o de desconfiar dos seus sentidos e creditar ao coração confiança sem medo. Digo isto porque o fiz, e quando a nova ordem que o furacão deixou após a turbulência fincou, sabia que não haveria vento algum em todo o mundo que desfizesse o enraizado (e nisso de raiz essa nova ordem era por demais entendida).
E como de um trampolim no qual destino não pode ser visto, fui encorajado pelos próprios ventos a me atirar.
A queda é longa, tão longa que nem sequer avistei chão e continuo no ar. Vou sem me preocupar com nada, caindo feito Alice. Cair desse jeito é viver. E eu caio odara, porque vivo odara e é assim que tem que ser. A aterrissagem? Canto e danço que dará!
A vinda foi bonita. Rápida, ventosa, exuberante e confusa, como são tantas outras. Mas essa tinha sido especial. É sabido por toda a gente que os ventos trazem coisas novas a todos os lugares, coisas que desordenam o que antes se mantinha muito retinto e estabelece uma nova ordem que leva certo tempo pra se estabilizar, até outra ventania sem aviso mudar tudo mais uma vez.
Um conhecimento popular que deveria ser levado em consideração por todos é o de desconfiar dos seus sentidos e creditar ao coração confiança sem medo. Digo isto porque o fiz, e quando a nova ordem que o furacão deixou após a turbulência fincou, sabia que não haveria vento algum em todo o mundo que desfizesse o enraizado (e nisso de raiz essa nova ordem era por demais entendida).
E como de um trampolim no qual destino não pode ser visto, fui encorajado pelos próprios ventos a me atirar.
A queda é longa, tão longa que nem sequer avistei chão e continuo no ar. Vou sem me preocupar com nada, caindo feito Alice. Cair desse jeito é viver. E eu caio odara, porque vivo odara e é assim que tem que ser. A aterrissagem? Canto e danço que dará!
quinta-feira, 26 de fevereiro de 2009
D'água
Falar de saudade é um desafio. É um dos temas mais recorridos por tantos autores que eu fico até meio perdido em dizer algo bonito e fora da mesmice. Mas eu quero falar sobre isso, tá muito forte pra ficar só pra mim.
Saudade é coisa fisiológica, também. Percebe-se facilmente pelo aperto no peito, rosto inclinado e desligado, olhos em lugar nenhum e cabeça em todos os lugares. É latente, a dita cuja. Não é privilégio de classe, é inerente a quem respira, e isso envolve muita gente e bicho.
Eu queria continuar a dizer como é que isso funciona. Mas cada um tem um pouco de saudade dentro de si, e sabe muito bem como é, sem precisar ler nada sobre pra ter certeza de que é isso mesmo. Também não vou continuar porque dei pra ouvir uma canção que não ouvia há muito! E ela me reaviveu muita coisa boa passada e porvir. Ela me deixa feliz e me dá um abraço bom.
É só isso, camaradas.
E que amanheça brilhando mais forte.
Saudade é coisa fisiológica, também. Percebe-se facilmente pelo aperto no peito, rosto inclinado e desligado, olhos em lugar nenhum e cabeça em todos os lugares. É latente, a dita cuja. Não é privilégio de classe, é inerente a quem respira, e isso envolve muita gente e bicho.
Eu queria continuar a dizer como é que isso funciona. Mas cada um tem um pouco de saudade dentro de si, e sabe muito bem como é, sem precisar ler nada sobre pra ter certeza de que é isso mesmo. Também não vou continuar porque dei pra ouvir uma canção que não ouvia há muito! E ela me reaviveu muita coisa boa passada e porvir. Ela me deixa feliz e me dá um abraço bom.
É só isso, camaradas.
E que amanheça brilhando mais forte.
quarta-feira, 18 de fevereiro de 2009
quarta-feira, 11 de fevereiro de 2009
O estandarte do sanatório geral
Minha casa tem mudado ultimamente. Coisas que antes eram cuidadosamente escondidas por portas e dobradiças, agora estão escancaradas para quem por acaso passar por perto. A persiana do quarto quebrou, o sol agora entra sem cerimônia alguma pra me acordar. O guarda-roupa, sem porta, deixa à mostra a falta de interesse em manter tudo organizado por cor e evento. Outras aberturas são sentidas pela casa, embora algumas, um tanto quanto intrigantes, não possam ver vistas, como a falta da persiana ou da porta do guarda-roupa.
Nem sei quanto tempo faz que a persiana se foi, ou mesma a porta do guarda-roupa. O que eu sei é que hoje, um tanto de meses ou anos depois, me acostumei a tudo isso e não vejo falta de estética ou sei lá o quê mais nisso. Aberturas cotidianas que se transformam no costumeiro, normal. Agora tô só à espera de que as outros rombos se normalizem, e que eu possa sentir todos estes como parte minha acostumada, e sem surpresas não boas por um longo hiato de tranquilidade.
Nem sei quanto tempo faz que a persiana se foi, ou mesma a porta do guarda-roupa. O que eu sei é que hoje, um tanto de meses ou anos depois, me acostumei a tudo isso e não vejo falta de estética ou sei lá o quê mais nisso. Aberturas cotidianas que se transformam no costumeiro, normal. Agora tô só à espera de que as outros rombos se normalizem, e que eu possa sentir todos estes como parte minha acostumada, e sem surpresas não boas por um longo hiato de tranquilidade.
sábado, 7 de fevereiro de 2009
Mas tudo bem
Giz conhece a mim de maneira intensa. E eu não tenho nenhuma lembrança de ter confiado a ela esses sentimentos e memórias que guardo tão bem comigo. De seu escritor, era o xodó, o maior orgulho em letra escrita. Pudera, é tudo muito sensível. Eu que o diga, é bem como se as ondas sonoras da física, enquanto ouço a dita cuja, penetrassem sem permissão alguma, e até com certa violência, em todos os lugares em que a pele cobre meu corpo. Levando em consideração que a pele é o maior órgão nosso, é muita coisa sentida ao mesmo tempo. E é isso que a música causa em mim. Eu estranho o fato dela estar em um álbum vendido ao grande público, que direito têm essas pessoas estranhas de saberem coisas tão íntimas minhas, e só minhas? E é aí que eu me engano, e feio. O poeta foi muito bem sucedido em universalizar a canção, e eu sou só mais uma vítima honrosa por isso.
Imagino seu processo criativo nesse caso em especial. É quando lembro de outro poeta, um mais experiente e bondoso, que não hesitava em aconselhar os jovens inexperientes. Rilke disse que uma de nossas melhores fontes para escrever era a nossa infância, que de tão sincera e ingênua, conseguimos falar sobre ela de uma maneira muito bonita, ocasionando em obras do coração. Obras estas que entram nas pessoas através da cute, por meio de ondas sonoras ou visuais, e que deixam rastros de sensações igualmente desconhecidas e prazerosas por onde passam.
Imagino seu processo criativo nesse caso em especial. É quando lembro de outro poeta, um mais experiente e bondoso, que não hesitava em aconselhar os jovens inexperientes. Rilke disse que uma de nossas melhores fontes para escrever era a nossa infância, que de tão sincera e ingênua, conseguimos falar sobre ela de uma maneira muito bonita, ocasionando em obras do coração. Obras estas que entram nas pessoas através da cute, por meio de ondas sonoras ou visuais, e que deixam rastros de sensações igualmente desconhecidas e prazerosas por onde passam.
domingo, 25 de janeiro de 2009
Asight
Leu tanto que pensou mais um tanto e transplantou a córnea. Mas só em sua cabeça. Não via mais nada como há um segundo, novos olhos, nova visão. Havia mais mágica em tudo, nada era comum. Passara todos os anos de sua vida, até então, olhando com os antigos olhos os mesmos lugares e pessoas, que agora pareciam transformados, estavam diferentes. Tudo era motivo de celebrar a beleza, e esta era em abundância. Uma gota d'água transbordando inocentemente de um squeeze vislumbrava seu pensamento, e inclinava a cabeça para acompanhar todo seu breve itinerário até se espalhar pelo chão e dividir-se em brilhos úmidos. Em um cd qualquer, com a mídia virada pra cima, as cores vibrantes da tecnologia fantasiavam diante de seu nervo óptico alterado, era a aurora boreal em pleno Nordeste Brasileiro.
Fitava agora sua mão, esta que o acompanhara por toda seus dias desde feto, na mágica gestação. Era bonita, e como era. Tentou decifrar as linhas de sua palma, parecia um alfabeto esquecido, em vão. Girou-a e olhou bem de perto. Via a localização exata das veias que faziam todo o transporte e nutrição de tanta coisa biológica que ele desconhecia - ou se conhecia, preferia deixar assim no não-saber. Tocou-a. O sentir é gostoso, intenso, vivante. Sentia, logo existia. Agora juntou as duas mãos numa dança silenciosa e minuciosa, onde os dedos guiavam numa melodia misteriosa e bela, bela como tudo que seu olhar alcançava. Quando a dança cessou, olhou a outra mão. Observou logo abaixo dela a esperança amarrada no pulso, e achou isso muito bonito. Esse transporte de coisas boas do coração até o pulso, materializado e merecedor de versos. É tudo possuidor de muita boniteza.
Fitava agora sua mão, esta que o acompanhara por toda seus dias desde feto, na mágica gestação. Era bonita, e como era. Tentou decifrar as linhas de sua palma, parecia um alfabeto esquecido, em vão. Girou-a e olhou bem de perto. Via a localização exata das veias que faziam todo o transporte e nutrição de tanta coisa biológica que ele desconhecia - ou se conhecia, preferia deixar assim no não-saber. Tocou-a. O sentir é gostoso, intenso, vivante. Sentia, logo existia. Agora juntou as duas mãos numa dança silenciosa e minuciosa, onde os dedos guiavam numa melodia misteriosa e bela, bela como tudo que seu olhar alcançava. Quando a dança cessou, olhou a outra mão. Observou logo abaixo dela a esperança amarrada no pulso, e achou isso muito bonito. Esse transporte de coisas boas do coração até o pulso, materializado e merecedor de versos. É tudo possuidor de muita boniteza.
terça-feira, 20 de janeiro de 2009
Versos esperados
Tirinha têxtil da esperança
quase nem existe
Por um fio, ou dois, cerúleos
persiste.
Enfim, madura, cedeu
Certa da missão cumprida
tristemente disse Adeus
O pulso se irritou,
se embaraça por sua nudez
Mas antes todo nuinho realizado
a não ter o que já se fez.
Uma nova esperança é vestida
Para tudo dar pé e mão
verde-gaio renascida.
quase nem existe
Por um fio, ou dois, cerúleos
persiste.
Enfim, madura, cedeu
Certa da missão cumprida
tristemente disse Adeus
O pulso se irritou,
se embaraça por sua nudez
Mas antes todo nuinho realizado
a não ter o que já se fez.
Uma nova esperança é vestida
Para tudo dar pé e mão
verde-gaio renascida.
segunda-feira, 12 de janeiro de 2009
Sobre escrever
É melhor não insistir. Quando não quer, não vem. Tem vontade própria. É de dentro pra fora, como exorcismo. Pra não me irritar, é preferível repousar a caneta com tudo. Viver irritado não soa bem, viver é tão raro. E que haja linhas em branco, amém!
domingo, 11 de janeiro de 2009
Leve demais
Pela primeiríssima vez em tantos anos, não existi. Foi uma sensação louca: lá estava eu, meio-acordado, meio-dormindo. Vivo, ora pois! Eu raciocinava (ainda que dificilmente). Moribundo, embora não houvesse dor nem nada. E esse nada que me fez pensar se eu estava em outro plano. Flutuei. Mexia os braços e pernas, em vão. Serpenteava desarrumando toda a cama. Era real? Angústia. Voz alguma saía, mas eu gritava para mim mesmo, alto, em silêncio. Ânsia de registrar tudo. Mas se estava inválido?! Quero a mim de volta! Diferente e extravagante experiência, mas prefiro a mim e meus estralos frequentes. Caí da levitação. Estrondo. Registrar! Ao lado do travesseiro, papel e findoso lápis. Sentei-me e, como animal faminto que vê presa fácil, devorei a dupla de utensílios. Tinha pressa. O fiz. Satisfiz-me. E fui almoçar.
quinta-feira, 8 de janeiro de 2009
Feliz Aniversário
Era pouco antes da meia-noite do dia do aniversário de seu velho amigo. Tinham se falado há pouco, pela internet, colocando em par as novidades maciças e refletindo sobre o até então inacabado hiato temporal que os impedia de se ver. O não-aniversariante pensou por um momento na idade dos dois e fez a praxeada observação de estar ficando velho. Foi retrucado em meio-tom de discordância do outro: "Pode até ser da gente ficar velho, mas amizade, não". O amigo autor da frase se ausentou para comer algo, o outro foi procurar uma música para gastar o tempo, enquanto pensava o quão legal tinha sido o que acabara de ler. Passou da meia-noite no Nordeste, o relógio do computador adiantado em uma hora denunciou: o amigo havia ficado mais velho. Levou alguns minutos para perceber o acontecido, mas assim que se deu conta, logo foi congratular-lhe. Com animação e sinceridade, desejou ao aniversariante que tivesse um dia incrível e que coisas positivas o acompanhassem nos anos que viriam. O amigo, agora um pouco mais velho, agradeceu seu gesto. Mas agradeceu de um modo tão brilhante que até inspirou o outro, de olhos marejados e tão brilhantes quanto o gesto alheio, a escrever algumas poucas linhas sobre o acontecido. Aquele momento foi só dos dois, sem precisar esconder nada nem pensar no que terceiros diriam. Foram os dois, puros, apenas eles mesmos.
sábado, 3 de janeiro de 2009
Sem palavra, por enquanto
Pelo segundo ano consecutivo arrumei um calendário pra orientar meu ano. Como de praxe, escolhi a porta do meu quarto pra fixar o estilizado conta-tempo, o primeiro lugar que vejo quando entro e saio do meu recinto. Já que isso acontece várias vezes por dia, achei a melhor opção, de novo. Mas, como disse, essa foi a segunda vez que uso o dito cujo colado na porta, ou seja, a primeira troca. Troca. Ô palavra mais de agosto! Troquemos (de novo!), então, por mudança. Mudança, ah!, melhoria notada até na entonação.
Pois bem. Enquanto arrancava sutilmente a fita dupla-face do vinte-zero-oito, ia lembrando de tudo que me aconteceu nos 366 dias anteriores: desde o entediante primeirão de janeiro ao agitado e comemorado 31 de dezembro, todos eles passavam pela minha cabeça, a maioria em ordem cronológica, outros, inovando. Não foi um ano fácil, e as dificuldades vão além dos casuais problemas-vestibulando. Devo dizer, já concluído e contrastando, que foi um ano fantastique. Sem mais delongas e detalhes, temo transformar esse aqui em algo muito pessoal e doce, e eu não quero isso por agora. Pra ser sincero, até almejo dar um ar universalista nisso tudo.
Finalmente, quando o último centímetro de fita adesiva cedeu, eu dobrei o grande papel num pequeno quadrado imperfeito para facilitar seu lugar no lixeiro. Antes de abandonar o objeto, porém, olhei bem pra ele e enxerguei as quatro letras muy discretas que eu tinha escrito embaixo dos também quatro números que formam 2008: H O P E. Foi aí que me dei conta de que se fechou mais um ciclo, de formidável forma e vitória, e que se fez valer o nome. Talvez não exatamente como eu queria, mas de um jeito que aprendi a gostar tanto ou mais do que o desejado.
Mudança. O outro calendário (o vinte-zero-nove), até então timidamente enrolado num elástico, esperava há dias seu lugar ao sol (minha porta recebe toda a iluminação natural das duas janelas do quarto). A hora chegou. Desenrolei-o. Uma tesoura e um mais um rolo de fita-adesiva. Meus pés e alguns pesos extras parar domar as insistentes dobraduras. Em pouco tempo, lá estava ele, pronto pra ser colado, marcado e visto durante mais um ano inteiro. É bonito e tem vida, até recebeu elogios de minha mãe e minha irmã perguntou sobre sua origem pra ter um igual.
Mudança. Não dá pra falar muito sobre o novo, justamente por ser novo. O calendário está em branco, sem muita história ainda, mas sua pré-história é sem dúvida essencial para todo um entendimento futuro ou previsão, e eu não sou a melhor pessoa no ramo das adivinhações e probabilidades, presente. No mais, é esperar. E seguir preenchendo a história desse aí, que ainda não tem nome, como seu precursor (Hope), mas que vai conquistar seu espaço na minha memória. E aqui, conseqüentemente.
Um 2009 excelente para mim e você, curioso do bem.
PS: Ainda não houve adaptação de minha parte para deixar o uso do querido e sonoro trema, e não há previsão.
Pois bem. Enquanto arrancava sutilmente a fita dupla-face do vinte-zero-oito, ia lembrando de tudo que me aconteceu nos 366 dias anteriores: desde o entediante primeirão de janeiro ao agitado e comemorado 31 de dezembro, todos eles passavam pela minha cabeça, a maioria em ordem cronológica, outros, inovando. Não foi um ano fácil, e as dificuldades vão além dos casuais problemas-vestibulando. Devo dizer, já concluído e contrastando, que foi um ano fantastique. Sem mais delongas e detalhes, temo transformar esse aqui em algo muito pessoal e doce, e eu não quero isso por agora. Pra ser sincero, até almejo dar um ar universalista nisso tudo.
Finalmente, quando o último centímetro de fita adesiva cedeu, eu dobrei o grande papel num pequeno quadrado imperfeito para facilitar seu lugar no lixeiro. Antes de abandonar o objeto, porém, olhei bem pra ele e enxerguei as quatro letras muy discretas que eu tinha escrito embaixo dos também quatro números que formam 2008: H O P E. Foi aí que me dei conta de que se fechou mais um ciclo, de formidável forma e vitória, e que se fez valer o nome. Talvez não exatamente como eu queria, mas de um jeito que aprendi a gostar tanto ou mais do que o desejado.
Mudança. O outro calendário (o vinte-zero-nove), até então timidamente enrolado num elástico, esperava há dias seu lugar ao sol (minha porta recebe toda a iluminação natural das duas janelas do quarto). A hora chegou. Desenrolei-o. Uma tesoura e um mais um rolo de fita-adesiva. Meus pés e alguns pesos extras parar domar as insistentes dobraduras. Em pouco tempo, lá estava ele, pronto pra ser colado, marcado e visto durante mais um ano inteiro. É bonito e tem vida, até recebeu elogios de minha mãe e minha irmã perguntou sobre sua origem pra ter um igual.
Mudança. Não dá pra falar muito sobre o novo, justamente por ser novo. O calendário está em branco, sem muita história ainda, mas sua pré-história é sem dúvida essencial para todo um entendimento futuro ou previsão, e eu não sou a melhor pessoa no ramo das adivinhações e probabilidades, presente. No mais, é esperar. E seguir preenchendo a história desse aí, que ainda não tem nome, como seu precursor (Hope), mas que vai conquistar seu espaço na minha memória. E aqui, conseqüentemente.
Um 2009 excelente para mim e você, curioso do bem.
PS: Ainda não houve adaptação de minha parte para deixar o uso do querido e sonoro trema, e não há previsão.
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